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Praticáveis (2022) consiste em uma ação concebida pelo Coletivo Parabelo, realizada a partir de práticas performativas públicas desenvolvidas na chave da arte como educação em determinados ambientes, a saber: escolas, feiras livres e parques urbanos da cidade de São Paulo. De saída, é importante lembrar que a palavra praticável pode sugerir uma dupla acepção: como substantivo, faz referência às estruturas, plataformas e andaimes móveis sobre os quais artistas da cena se movimentam; como adjetivo, qualifica aquilo que pode ser posto em prática, o que é exequível, realizável. Por sua vez, o Coletivo Parabelo recorre à noção de praticável como um referente para compreender as mudanças de preceitos estéticos promovidas pelos aspectos performativos da chamada arte contemporânea: o engajamento da experiência corporal no âmbito da vida cotidiana, o impulso para a participação, para o compartilhamento, para a coletivização da co-presença corporal em espaços tempos específicos, a composição de dispositivos, situações, acontecimentos que imaginam, desimaginam e reimaginam a vida social, bem como, o exercício da indisciplinaridade no questionamento das separações absolutas entre áreas do conhecimento, saberes tradicionais e culturas populares e, por fim, o apetite pelo processo em detrimento do produto artístico. Logo, a concepção de praticável parece denotar uma espécie de burilamento da vida das formas de arte enquanto compromisso com a arte das formas de vida.  A partir disso, pode-se dizer que a ação Praticáveis se orienta pelo paradigma arte:vida não exatamente por almejar promover dissoluções das fronteiras entre uma e outra, mas  porque assume o referente modal-experimental, ao investigar maneiras, modos, formas de modificação do real, ao invés de reafirmar o padrão expressivo-discursivo que pressupõe o uso de injunções, prescrições e ordens explicativas que procuram definir uma dada realidade – uma sala de aula, uma cadeia produtiva alimentícia tradicional, uma área verde da cidade, por exemplo. Isto pois, durante a realização da ação Praticáveis interessa experimentar práticas de indistinção, de indiscernibilidade, de indeterminação nas e pelas quais ao invés de permanecer reiterando a pergunta: o que é arte?,  o Coletivo Parabelo pretende investigar modos de acionar estados de qualidade de atenção à vida, ao tentar entender: quando há arte? Dessa forma, torna-se necessário compreender que a dimensão marcadamente instrucional, programática, praxista da arte contemporânea parece apontar que suas práticas não buscam necessariamente replicar regras, normas e critérios estéticos preestabelecidos, de modo que seu caráter inventivo reside justamente na concepção, investigação e experimentação das regras, normas e critérios que constituem as práticas as quais confere-se diferentes graus de artisticidade. Por isso, durante o desenvolvimento da ação Praticáveis, o Coletivo Parabelo debruça-se na realização daquilo que temos conceituado como Pactos Performativos: ignições para a experimentação de aulas performáticas que ao interpelarem  “o que aconteceria se?” ativam a co-presença corporal de modos específicos no e pelo compartilhamento de determinados espaços tempos, como uma escola municipal, uma feira livre ou um parque urbano da cidade de São Paulo. Nesse sentido, a ação Praticáveis tem-se desdobrado em três frentes de investigação, experimentação e invenção diferentes, embora relacionadas entre si: InterPRETAções (2022), Pastelão (2022)  e Aterrários (2022). O acompanhamento do andamento  destas ações é realizado quinzenalmente por meio da circulação de boletins, à priori, internos, aos quais nomeamos como Andaimes, onde são compartilhados escritos, imagens, documentos e referências por meio da composição de uma série de notas de campo, geradas no dia a dia dos referidos processos de investigação, experimentação e invenção. A princípio, a proposta é de que, a partir desse material, a ação Praticáveis dê origem a pelo menos três publicações de artista distintas. No mais, cabe destacar que estas práticas performativas públicas abordadas na perspectiva da arte como educação, se encontram em diferentes níveis de desenvolvimento, vide suas especificidades sócio teatrais, histórico visuais e coreo políticas, embora compartam traços poéticos, políticos e pedagógicos comuns: práticas que tentam ativar determinadas qualidades de movimentos corporais, certos estados do corpo, ou ainda, condições de co-presença corpórea que remetem àquilo que a artista brasileira Lygia Clark concebeu como “estados de arte sem arte”. Em um momento histórico em que a vitalidade das nossas ações, gestos e práticas corporais está frequentemente sequestrada pelas dinâmicas afetivas de polarizações ético-políticas assimétricas, pela perpetuação dos investimentos relacionais economicistas do empreendedorismo, ou ainda, pelos imperativos da digitalização de crenças, gostos, opiniões a fim de otimizar todo tipo de publicidade algorítmica; talvez seja oportuno voltar-se à arte enquanto possibilidade de repensar, reimaginar, reinventar os movimentos, as ações, as práticas corporais a fim de interrogar aquilo que temos feito de nós mesmos.

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